Insight: Grandes crises nas bolsas
Insight: Grandes crises nas bolsas acontecem durante o ciclo de cortes dos juros
Qual é a situação atual?
Este é um breve comentário sobre as conclusões das duas últimas publicações desta seção, que podem ser relidas nos seguintes links: Análise do dia 12/06/2023 e Análise do dia 13/09/2023.
Na análise do dia 12/06/2023, foi demonstrado que historicamente, as recessões e grandes quedas nos índices de ações ocorrem após o início do ciclo de cortes das taxas de juros pelo FED. Já na análise do dia 13/09/2023, foi comentado que as recessões ocorrem após a normalização da curva de juros, quando ela se torna positivamente inclinada, ou seja, a diferença entre o vértice longo e o curto é maior que zero.
O fato é que o mercado de dívida também é especulativo, e grandes investidores fazem gestão ativa dos títulos. Portanto, o maior interesse está no retorno gerado pela variação dos preços dos títulos durante o período de vida deles, e não na taxa de carrego até o vencimento. A taxa serve como referência para a precificação dos títulos de dívida e, no caso dos treasuries, como referência para o cálculo do prêmio de risco das ações.
No gráfico acima, a linha amarela representa os rendimentos dos títulos do Tesouro Americano, enquanto a linha azul representa o ETF TLT (iShares 20+ Year Treasury Bond ETF), que acompanha os preços dos títulos do Tesouro Americano com vencimento superior a 20 anos.
Também na publicação da semana passada (Análise do dia 13/09/2023), foi apresentada uma indicação dos rendimentos dos lucros das empresas componentes do índice S&P 500 por meio do Excess CAPE Yield.

Com taxas de juros elevadas e rendimentos baixos nas dos lucros das empresas, as preferências voltam-se para as taxas mais altas. Além de um maior rendimento no carrego, há um maior potencial de ganho no preço, no caso de queda das taxas.
A política monetária afeta toda a curva de juros, de forma direta nos vértices curtos e indireta nos longos. Quando o FED inicia um ciclo de redução dos juros, a variação é maior nas pontas curtas, mas as longas também diminuem, e assim a curva toda se move para baixo.
Nos períodos que antecedem a recessão, quando não há mais prêmio para as ações, o início da redução dos juros gera uma maior certeza na diminuição de toda a curva, resultando em aumento dos preços dos títulos de dívida. Nesses momentos, em que geralmente existem muitos excessos, alavancagem e má alocação de capital, algum evento pode desencadear uma crise sistêmica, levando o banco central a injetar liquidez, o que é feito por meio de compromissadas lastreadas em títulos do governo e pelo próprio Quantitative Easing, que envolve a compra direta dos títulos de dívida do tesouro das instituições que negociam com o FED.
Quando isso ocorre, há um grande fluxo de recursos que sai da bolsa e vai para os treasuries, buscando ganhos com a variação dos preços dos títulos do governo.
Os gráficos abaixo apresentam os períodos das crises de 2008 e 2020, com uma grande queda nas ações e simultâneo aumento no ETF TLT (linha azul).


Os títulos de dívida do governo são os instrumentos utilizados para o exercício da política monetária, portanto, é através dos treasuries que o novo dinheiro é injetado no sistema financeiro, afetando os preços dos títulos. Quando o FED realiza o QE (Quantitative Easing), esse efeito é potencializado, sinalizando para os investidores que os preços dos títulos continuarão aumentando, o que gera uma maior migração de recursos das ações para os títulos de dívida do governo. Portanto, o fator principal não é a diferença no carrego das taxas de juros em comparação com o rendimento das empresas, mas sim o fluxo que busca ganhos mais elevados e rápidos na variação dos preços dos títulos de dívida.
Em uma conta simples, uma queda de 200 pontos base (ou redução de 2%) no rendimento de um título de 20 anos zero cupom resulta em um aumento de 40% no preço.
Na última quarta-feira, 20/09, o FED decidiu manter a taxa da FFR (Federal Funds Rate), mas com um tom hawkish, e as taxas de juros mais longas continuaram subindo, ou seja, houve queda nos preços. Ainda não há uma sinalização mais clara de redução em toda a curva de juros para iniciar um grande fluxo de saída da bolsa em direção aos títulos de dívida do governo americano.
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