A única saída é a impressão!
Será necessário imprimir mais dinheiro para que a liquidez não se esgote.
Qual é a situação atual?
Em 24/01/2024, o FED anunciou o fim do Bank Term Funding Program (BTFP), que foi criado para socorrer os bancos ilíquidos e insolventes, para que estes pudessem cumprir os compromissos com os depositantes.
Este programa faz parte das ferramentas usadas temporariamente pelo FED para criar liquidez e manter a estabilidade do sistema financeiro, para que crises de liquidez não comprometam a “eficiência” da política monetária. Acontece que o problema dos bancos persiste. As taxas de juros ainda altas mantêm baixos os valores de mercado dos ativos dos bancos e, portanto, os prejuízos não realizados ainda não puderam ser cobertos, conforme relatório trimestral de performance das instituições financeiras cobertas pela FDIC

O problema se eleva com o volume de depósitos não segurados pela FDIC. O risco alto de perda permanente dos depositantes levou estes a trocarem os depósitos pelos Money Market Mutual Funds, que são fundos de alta liquidez que investem em títulos de curto prazo.

Em 11/2023, foi comunicado pelo anúncio trimestral de refinanciamento do tesouro americano que a maior parte das novas emissões de dívida do tesouro seria em T-Bills, que são títulos de curto prazo, abaixo de um ano. Isso levou os Money Market Funds a trocarem as compromissadas reversas (RRP) do FED por T-Bills com taxas maiores.

Liquidez do Dólar
O conceito de liquidez do dólar é a diferença entre os fatores que adicionam liquidez ao sistema financeiro e os fatores que subtraem liquidez. Os fatores que adicionam liquidez são os ativos no balanço do FED, e os fatores que subtraem liquidez são as compromissadas reversas (RRP) e a conta do tesouro junto ao FED (TGA).
Do lado dos ativos, o FED mantém o programa de aperto quantitativo (QT), deixando vencer sem rolagem parte dos títulos do tesouro e das hipotecas (MBS). Por outro lado, injetava liquidez com o BTFP.
Do lado dos passivos, o elevado gasto do governo americano exige que se mantenha um volume alto de dólares na conta do tesouro, fator redutor de liquidez. Já as RRP chegaram a ter um volume acima de 2,5 trilhões de dólares. Este volume seria reduzido naturalmente pelo QT, porém a redução acelerou com a queda de demanda pela troca das RRPs por T-Bills nos fundos de Money Market.

A redução acentuada das RRPs permitiu que a liquidez do dólar aumentasse, trazendo ânimo para o mercado financeiro, refletido nas altas das bolsas e criptomoedas.

Considerando tudo mais constante, a liquidez continua aumentando até o limite de redução das RRPs. Nesse ponto, a manutenção de valores altos da TGA e a continuidade do QT fariam a liquidez se exaurir, impactando negativamente os preços dos ativos financeiros. Somado a isso, tem-se o fim dos novos financiamentos do BTFP.
Implicações
A escassez de moeda e fim dos programas de financiamento dos bancos em dificuldade podem levar às seguintes consequências:
- Novas altas das taxas de juros não controladas diretamente pelo FED;
- Grande queda dos preços dos ativos financeiros, como ações, títulos de dívida, criptomoedas etc;
- Novos casos de quebras bancárias por falta de depósitos e dificuldade de tomar novos empréstimos;
- Dificuldade de refinanciamento do tesouro americano;
- Eventual crash dos mercados.
Seria muito difícil acontecer algum evento que contamine todo o mercado e traga instabilidade para o sistema financeiro sem que o FED aja rapidamente. As formas de respostas do FED podem ser através de novos financiamentos temporários ou, no caso de evento com grande magnitude, o encerramento do Quantitative Tightening (QT) e nova rodada de Quantitative Easing (QE).
Por outro lado, o início das reduções dos juros deve melhorar as condições dos bancos em dificuldades através do aumento dos preços dos ativos pela marcação a mercado, reduzindo os prejuízos não realizados e trazendo mais confiança para que voltem a aumentar os depósitos. Os money market funds se tornam menos atrativos, aumentando os empréstimos e compra de ativos pelos bancos e as RRPs se estabilizam.

Hoje a maior probabilidade é que as reduções das taxas de juros se iniciem apenas em maio deste ano.
O programa do BTFP será encerrado, mas os empréstimos têm duração de até 1 ano, trazendo certo fôlego para quem rolar antes de 11 de março. E ainda há mais de 900 bilhões em RRPs. Portanto, deve haver um casamento nos prazos de início das reduções de juros e seus efeitos com a redução das RRPs e vencimento dos empréstimos do BTFP.
Assim, a única forma de se materializar o pouso suave da economia é com mais expansão monetária.
Essas soluções são sempre paliativas, mais doses do mesmo veneno que distorce as informações para o cálculo econômico e levam os investidores e empreendedores a se engajarem em maus investimentos.
O ano de 2024 deve ser bastante complicado para os ativos financeiros e é necessário ficar atento a esses dados.
Já possuo em carteira e sigo observando o ETF TLT, pois uma virada na política monetária no sentido de um novo QE trará bons ganhos para os títulos de longo prazo. Mais sobre o comportamento do TLT em períodos de crise por ser visto neste artigo: Insight.
Disclaimer
Este artigo não se trata de recomendação de investimentos. As informações apresentadas neste conteúdo refletem exclusivamente as opiniões do autor, baseadas em pesquisas fundamentadas, utilizando informações disponíveis ao público e consideradas confiáveis na data de publicação. Esse conteúdo é resultado de estimativas e aproximações, e está sujeito a alterações. Possui caráter meramente informativo e não constitui uma oferta para negociação de valores mobiliários e/ou outros instrumentos financeiros. O destinatário deve realizar suas próprias avaliações e buscar meios autorizados e adequados para investir seu patrimônio, caso assim deseje. As projeções de risco ou retorno potenciais são ilustrativas e não devem ser interpretadas como garantia de resultados. Ressaltamos que os investimentos no mercado financeiro estão sujeitos a diversos riscos, como risco de mercado, risco de crédito, risco de liquidez, perda do capital investido e chamadas de margem, entre outros. Retornos passados não garantem retornos futuros.
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