Opinião do Analisto: Por que a China perdeu o gás?
Quem viu as duas primeiras décadas deste já velho século XXI pôde observar um dos mais exuberantes fenômenos de crescimento econômico já executado. Falamos da China, que saiu dos escombros de uma série de malfadados experimentos socialistas que mataram dezenas de milhões para ser uma potência econômica que parecia fadada a se tornar a maior economia do mundo.

Mutação Chinesa : Mao Tse-Tung, Henry Kissinger & Nixon e URSS
A China começou a mudar ainda durante a Era Mao Tse-Tung. Henry Kissinger, secretário de Estado de Richard Nixon, percebeu que havia mais conflitos que concordâncias entre chineses e soviéticos, e que a China poderia ser uma aliada na confrontação à URSS.
Começou como aproximação diplomática discreta (podemos até lembrar das partidas de ping-pong que efetivamente aconteceram!), que foi evoluindo para uma relação bastante aprofundada do ponto de vista comercial.
China: "A fábrica do mundo"
O sucessor de Mao, Deng Xiaoping, (o homem que dizia que não importa a cor do gato, desde que cace ratos) percebeu aí uma oportunidade de exportar trabalho barato (que a China tinha em quantidade), e tornar-se uma “fábrica do mundo”.
Uma série de reformas estruturais, como a criação de Zonas Econômicas Especiais, a reversão de políticas comunistas, permitindo a propriedade privada em algumas circunstâncias, e uma abundância de demanda ocidental parecem ter promovido um “milagre chinês”, tirando centenas de milhões da miséria.
A China parecia destinada a ultrapassar os Estados Unidos como maior potência econômica ainda na primeira metade do século XXI.
A China perdeu o fôlego?

Mas a China parece ter perdido o fôlego. O que aconteceu? Há oportunidades para se ganhar dinheiro ainda? Quais vantagens a China pode extrair de sua posição geopolítica?
Podemos apontar os seguintes motivos para o desaquecimento da economia chinesa:
- A China ficou cara demais para continuar sendo a “fábrica do mundo”: os custos de trabalho já não são os de uma economia miserável, e para quem vai abrir uma indústria nova, novas fronteiras como Vietnã, Bangladesh e a própria Índia são mais rentáveis;
- A população está diminuindo: a política do filho único provocou alguns efeitos, como o desbalanceamento de homens e mulheres em idade reprodutiva. Além disso, é caro educar filhos na China, então mesmo com o relaxamento da política, somente casais com folga de caixa arriscam-se a ter o segundo filho. As consequências são uma população envelhecendo rapidamente, com menos jovens trabalhando para sustentar uma população de idosos que tem uma expectativa de vida maior;
- O colapso do mercado imobiliário chinês: consequência dos dois fenômenos acima, não há comprador para os imóveis que foram construídos na fase do boom. Seja por conta de população decrescente, seja pela redução do ritmo das migrações do campo para as cidades (já que o ritmo de instalação de novas indústrias reduziu-se brutalmente). O problema aí é que imóveis são o único instrumento de poupança dos chineses para sua aposentadoria já que não há um mercado financeiro bem estabelecido no país. Milhões de famílias perderam seu investimento porque as incorporadoras quebraram, ou possuem imóveis sem a menor perspectiva de revenda ou aluguel;
Os três fatores acima fazem com que as famílias acabem consumindo menos, já que há menos empregos, é necessário guardar para a aposentadoria e perdeu-se dinheiro (ou pelo menos se está com baixa liquidez, já que a “poupança” ficou virou um imóvel que está lá, mas que não se consegue vender). Isso acarreta um mercado interno fraco;
China´s trap:
Nearshoring
ou
Friendshoring?
Além disso, investir na China deixou de ser atraente para empresas ocidentais, em função de:
- Bravatas geopolíticas, especialmente a partir da ascensão ao poder de Xi Jinping: ameaças de tomada de Taiwan, apoio tácito à aventura russa na Ucrânia, postura beligerante em relação ao Ocidente;
- Questões de propriedade intelectual: empresas ocidentais foram obrigadas a ter sócio local O sócio local normalmente incorporava o know-how e um tempo depois abria uma fábrica vizinha produzindo uma cópia do mesmo produto, mas com subsídio governamental. É famoso o caso da unidade industrial da Embraer em Harbin, que depois de alguns anos precisou fechar, já que um concorrente lançou um avião praticamente idêntico. São incontáveis os casos de roubo de propriedade intelectual, sempre negada pelos chineses;
- Postura ética, digamos, “questionável”: qualquer um que tenha trabalhado com chineses sabe do que estou falando. Nas palavras de um empresário colombiano: “o único jeito de fazer um chinês cumprir uma promessa é dever dinheiro a ele. De preferência, dever muito dinheiro ao chinês”;
- A completa disrupção (tradução mal acabada de disruption) das cadeias logísticas globais provocada pela tresloucada política de Covid Zero na pandemia de 2020-22. Em um mundo cada vez mais pautado pelo baixo custo de estoques, mas pela pronta disponibilidade, melhor ter alternativas em paragens mais amigáveis;
- Falta de informações confiáveis: é simplesmente impossível confiar nos dados que são divulgados pelo governo chinês – não há checagem, não há imprensa livre, e o governo central divulga o que acha conveniente. O planejamento sem informações minimamente críveis torna-se comparável ao ato de dirigir em alta velocidade em um dia de neblina.
Estes fatores, associados ao aumento do custo de produzir na China acabaram provocando a onda do nearshoring (produzir perto) e do friendshoring (produzir em local menos hostil).

Tarifas e Guerra Comercial
Podemos apontar ainda os efeitos da Guerra Comercial produzida por aumentos de tarifas de importação promovidas por Donald Trump a partir de janeiro de 2018.
Os aumentos tarifários visam reduzir o déficit comercial americano e agradar o público interno: os Estados Unidos sofreram desindustrialização e redução de empregos industriais no processo de offshoring.
Apesar de alguns acordos, as tarifas aumentadas seguem em vigor no governo de Joe Biden e não há muita previsão de que venham a ser reduzidas em um futuro observável.
Esta, digamos, perda de energia da economia chinesa é visível, e por mais estímulos que o governo central venha tentando, qualquer índice representativo da economia chinesa vem mostrando fraqueza. Um bom exemplo é o CSI300, índice composto por 300 empresas das bolsas de Shanghai e Shenzhen, que se aproximou de seu ponto mais baixo em cinco anos.

O Modelo Chinês esgotou?
Também são sintomáticas as dificuldades enfrentadas pelas grandes incorporadoras chinesas, como Evergrande, que teve sua falência decretada no início deste ano, e Country Garden. São demonstrações de que o sistema imobiliário chinês não anda nada bem.
As consequências são particularmente ruins para países dependentes da venda de commodities (para esse termo eu não achei tradução razoável, então vamos com ele mesmo). Os preços das commodities, seja do milho, da soja ou do minério de ferro vêm caindo consistentemente desde junho de 2022.
Havia uma esperança de que a reabertura pós-pandemia na China, em dezembro de 2022, pudesse reaquecer a economia. Não foi o que aconteceu.
Os fãs do
modelo chinês (particularmente abundantes no Brasil) apostavam no crescimento do mercado interno, que, conforme visto, está longe de acontecer. Especialmente em um ambiente turbulento.
Há saída para este impasse da economia chinesa?
O governo tenta desde a reabertura do país em dezembro de 2022 (depois do enorme “protesto silencioso” provocado pela morte de várias pessoas queimadas em um apartamento trancafiado pelas autoridades do lockdown).
Normalmente, as medidas são pacotes de auxílio ao setor imobiliário (já vimos vários após a pandemia). Particularmente o último, publicado às vésperas do feriado da Golden Week, animou bastante os mercados locais, bem como tudo aquilo que envolve China.
O pacote é baseado em reduções de taxas para hipotecas, cortes de juros e redução de compulsórios em bancos, visando reavivar o segmento imobiliário, que está enfrentando bastante dificuldades.
O Pacote Chinês dará certo?
Num primeiro momento, antes do feriado, a resposta foi muito positiva dos mercados. As bolsas de Shanghai e Shenzen viram altas muito significativas, e durante o feriado, com o mercado da mainland fechado, a bolsa de Hong Kong subiu bastante. As ações da Vale também responderam positivamente.
Mas, contudo, entretanto, a volta do feriado teve sabor de ressaca e chop suey estragado. O índice Hang Seng, da bolsa de Hong Kong desabou quase 10%, em seu pior dia desde 2008, e os ADRs da Vale perdiam 4.5% na manhã da terça feira, 08 de outubro.
Os investidores parecem ter voltado esperando novas medidas do governo chinês e elas ainda não aconteceram. Os mercados reagiram com força, e é prematuro dizer se este novo pacote vai finalmente engrenar, ou novas medidas serão necessárias.

O Analisto traduz essa?
A opinião do Analisto é que há salvação para a economia chinesa, mas ela passa por mais medidas de estímulo ao consumo interno.
Como o Partido Comunista vai implementar essas medidas? Ainda é incerto.
Vale a pena ficar de olho, mas sob o risco de perder um eventual boom do mercado local, prefiro observar de fora.
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